Com inovação desenvolvida por Natalia Mota é possível reduzir tempo de diagnóstico de pacientes
(Foto: Rebeca Figueiredo)
Uma mulher neurocientista e psiquiatra chamada Natalia Mota conseguiu reduzir significativamente o tempo para diagnóstico da esquizofrenia e de outros transtornos mentais em pacientes. O processo, que antes era feito em mais ou menos dois anos, agora pode ser realizado em menos tempo graças ao programa de computador desenvolvido por Natalia para medir a organização do pensamento por meio da fala. Com a tecnologia, o objetivo da pesquisadora nordestina é poder encontrar sinais precoces da doença e, assim, prevenir danos no futuro. Que tal entender como a inovação funciona? Confira na matéria!
Diagnóstico de transtornos mentais feito pelo programa tem mais de 90% de precisão
Segundo Natalia Mota, é sabido que um dos indicativos da esquizofrenia se apresenta na maneira como o paciente estrutura fala e pensamentos. “Não é algo que o psiquiatra percebe apenas no conteúdo, mas na forma como a pessoa se comunica com organização”, disse durante entrevista por live no Instagram do Glamurama. Assim, em seu projeto, o objetivo foi utilizar a tecnologia para auxiliar o trabalho de percepção do psiquiatra e captar o sofrimento mental na fala de maneira mais rápida.
Após estudos, o resultado foi a criação de um programa de computador capaz de diagnosticar desordens como a esquizofrenia com mais de 90% de precisão. “Na prática, nós pegamos a sequência de palavras do discurso e representamos como um grafo, que é uma entidade matemática simples. Transcrevemos tudo que a pessoa conta, por exemplo, sobre um sonho, e representamos cada uma dessas palavras como uma unidade (uma bolinha), sendo a sequência dada por setas. Isso constrói o desenho de uma trajetória”, detalhou na entrevista.
O que foi percebido por meio dessa trajetória, segundo ela, é que pessoas que tiveram acesso a educação formal, e têm pleno desenvolvimento de suas habilidade de empatia e comunicação, colocam bastante informação no que dizem, mas contextualizando e criando um discurso conectado. “Enquanto isso, pessoas com esquizofrenia falam de uma maneira fragmentada e, com o programa, o pulo do gato é poder medir o quanto isso é fragmentado, identificando sinais precoces e prevenindo os danos”, explicou.
Pesquisadora se dedica a levar avanços tecnológicos para a avaliação de saúde mental
Nordestina e psiquiatra de formação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a cientista vem dedicando seu mestrado, doutorado – e, agora, pós-doutorado – para desenvolver estudos em psiquiatria computacional, uma área recente de pesquisa em que seu grupo foi um dos pioneiros. “A ideia é levar avanços tecnológicos para aplicação da psiquiatria, para avaliação da saúde mental e de aspectos que o psiquiatra usava só da sensibilidade para diagnosticar. O computador consegue perceber nossas preferências em termos de compras, por exemplo. Por que não usarmos essa sabedoria à serviço da saúde mental?”, indagou durante a live.
Com isso em mente, e em busca de mais novidades para a área que une computação e psiquiatria, ela e alguns colegas se uniram para criar uma startup, com sede em Portugal. O objetivo é continuar desenvolvendo ferramentas que possam auxiliar na identificação precoce de sinais de sofrimento mental. “Já que não conseguimos pelas vias comuns o financiamento para pesquisa, pensamos em gerar produtos comercializáveis para, a partir dessa receita, promover financiamento para novos estudos”, contou.
Natalia Mota defende o empoderamento feminino na ciência e busca inspirar outras cientistas
Vale destacar que, graças ao algoritmo desenvolvido para o diagnóstico da esquizofrenia, Natalia foi a 1ª brasileira e única sul-americana indicada ao prêmio Nature Research Award de 2019, na categoria Ciência Inspiradora. A premiação tem como objetivo valorizar a participação feminina na ciência, indicando nomes de mulheres de diversos países em duas categorias: inspiração e inovação. Além disso, neste ano, ela foi eleita uma das mulheres mais poderosas do Brasil segundo a Revista Forbes.
E por falar em mulher na ciência, Natalia também tem é uma defensora do empoderamento feminino no meio científico, por isso, fundou o Sci-Girls: grupo de mulheres cientistas que se reúne para trabalhar e discutir o papel feminino no campo da pesquisa. “Sempre gostei de discutir o papel da mulher dentro desse ambiente. Ser uma mulher cientista num país como o Brasil é um desafio enorme, mas ainda bem que não sou a única e isso me empolga. Quero encontrar e me unir a outras mulheres para ultrapassarmos barreiras juntas”, reforçou.