Luana Moraes, Bruna Ribeiro e Mariana Diniz estão produzindo um novo conceito de tratamento não-invasivo contra doenças relacionadas ao HPV
Você sabia que uma vacina terapêutica contra o câncer causado por HPV está sendo criada por três mulheres cientistas brasileiras? A farmacêutica Luana Moraes e as biólogas Bruna Ribeiro e Mariana Diniz são os nomes por trás da Terah-7, um novo conceito de imunoterapia (tratamento que estimula o sistema imunológico para combater doenças) em desenvolvimento pela ImunoTera, empresa spin off de biotecnologia também criada pelas pesquisadoras. Segundo elas, o objetivo é concluir o desenvolvimento do imunoterápico para oferecer um tratamento não invasivo e eficaz contra doenças relacionadas ao HPV, como lesões no colo do útero, câncer de colo de útero e câncer de cabeça e pescoço.
“O tratamento viabilizado pela ImunoTera, que é baseado numa proteína recombinante injetável, é capaz de ensinar as células de defesa a reconhecerem e eliminarem as células do câncer. A tecnologia foi desenvolvida durante nossos projetos de mestrado e doutorado, e os resultados alcançados geraram dois pedidos de patente que foram recentemente licenciados pela ImunoTera”, contou Bruna em vídeo para a Agência USP de Inovação.
Produto criado pelas cientistas apresentou cura permanente em modelo experimental
A ideia do produto surgiu em 2016, enquanto as cientistas estavam no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em São Paulo. Em suas pesquisas, elas chegaram até ao que batizaram de Terah-7, baseado em uma proteína recombinante capaz de direcionar e ativar o próprio sistema imunológico. O tratamento é inovador e pode ser administrado em forma de vacina de DNA ou de proteína recombinante junto à quimioterapia.
“Nosso produto apresentou 100% de regressão dos tumores em modelo experimental e também apresentou sinergismo como outros tratamentos já disponíveis na clínica, como a quimioterapia. Essa associação possibilitou a redução da dose do quimioterápico bem como a diminuição de efeitos colaterais induzidos pelo tratamento”, Luana Moraes no vídeo.
Agora, o próximo passo das pesquisadoras é obter uma prova de conceito clínico da Terah-7 com células de pacientes diagnosticadas com lesões pré-cancerígenas no colo do útero. Para isso, o trio conta com a parceria do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina USP.
Empresa foi criada pelas pesquisadoras para acelerar a inovação em biotecnologia
Mas, afinal de contas, como – e por que – surgiu a empresa de biotecnologia? Na prática, para que o produto fosse produzido e comercializado, as cientistas decidiram que seria melhor criarem sua própria empresa – e foi então que surgiu a spin off ImunoTera, também em 2016. Dali em diante, as três começaram a participar de iniciativas de inovação e empreendedorismo para criarem conexões com outras startups do setor de biotecnologia.
Vale destacar que, ao longo dos anos, a ImunoTera contou com forte apoio do ICB, que disponibilizou para a empresa o Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas. “O atual diretor, professor Luís Carlos de Souza Ferreira, abriu as portas do laboratório que chefia com bancada e equipamentos sofisticados de cultivo celular, microbiologia e biologia molecular”, disse Luana ao Jornal da USP.
Além do ICB, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) forneceu um investimento inicial a partir do edital Pipe-Fapesp (o que possibilitou a confirmação do potencial da vacina de DNA) e da Agência USP de Inovação (Auspin), que auxiliou as pesquisadoras nos processos de licenciamento das patentes.
Empresa ImunoTera, criada pelo trio de cientistas, já recebeu diversos prêmios na área de inovação e oncologia
Desde sua fundação, a ImunoTera já participou de diversos programas de aceleração e foi contemplada com alguns prêmios na área de inovação e oncologia – como o Prêmio de Inovação do Grupo Fleury em 2015, e o Prêmio Octavio Frias de Oliveira do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo em 2014. Em 2020, a spin off ainda foi umas das vencedoras da premiação ‘Mulheres Inovadoras’, promovida pela FINEP.
“Nós somos apaixonadas por ciência, fãs da biotecnologia, e acreditamos no potencial da inovação para salvar vidas. É isso que nos move”, finaliza Luana no vídeo.